terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O PÃO DE MEL

      A vida prega peças e desta vez me derrubou. Sinto que levarei um bom tempo para digerir o que aconteceu.
Mudei-me para Paris em busca de algo melhor, que me proporcionasse independência financeira e que apagasse de minha memória àquela vida “feliz”, mas cheia de restrições. Uma infância sem regalias, onde trabalhar não era opção, era obrigação.
 Minha mãe era uma vencedora, conseguiu nos criar com tão pouco, mas nos ensinou muito.
Sair de casa e morar em outro país não era um desafio. Antes disso era deixar de ser despesa para aquela que me criou com tanto carinho, mas que nunca nos iludiu sobre as dificuldades da vida.
“Se tens medo de lutar, não vá à guerra”- dizia sempre quando a dificuldade apertava.
Sempre que perguntavam, dizia que apesar das intempéries, minha infância foi doce, com cheirinho de Pão de Mel, que minha mãe  preparava quando recebia seu salário.  Tudo era festa.
Quando nos falávamos ao telefone, pedia pra que deixasse o meu Pão de Mel pronto, que eu podia chegar sem avisar e ela retrucava dizendo que não perderia a fornada e que só faria quando eu voltasse a morar no Brasil.
Em dois anos só tinha lhe visitado três vezes e ela cumpria com o prometido - nada de Pão de Mel.
Voltava a Paris sempre indignada!
Já me preparava para o trabalho quando recebi uma ligação dizendo que minha mãe havia falecido, vitima de atropelamento e seria enterrada no dia seguinte. O telefone despencou, caí no choro. Muitas emoções misturadas - culpa, ódio e raiva me impediam de sair daquele estado de morte.
Reuni forças e me dirigi ao Aeroporto, chorava copiosamente, ninguém notou.
Chegando ao velório não consegui entrar, ela estava muito machucada. Fui para sua casa, parei em frente, demorei a entrar. A angústia me consumia. Abri a porta e imediatamente aquele cheiro de Pão de Mel me invadiu. Corri para cozinha na ilusão de encontrá-la e acordar daquele pesadelo. Ela não estava lá, mas havia preparado  o Pão de Mel antes de sair de casa pela última vez, prevendo talvez que realmente eu chegaria sem avisar . As lágrimas correram os olhos... Foi a última vez que comi o doce. 

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